Sejam bem-vindos ao meu fórum, aqui escrevo de tudo um pouco e nesse momento daremos atenção sobre a fisiopatologia das fissuras orofaciais.

A fissura labiopalatina é a malformação craniofacial congênita
mais comum, tendo sua prevalência em torno de um para 500 a 700 nascidos vivos. É comumente não sindrômico, tendo a fissura de lábio e palato mais frenquente, seguido de fissura labial isolada e fissura de palato isolada.
Existem diversas formas de classificar a fissura, eu particularmente utilizo a Classificação de Spina (1972). Spina descreveu a sua classificação correlacionando o tipo de fissura com o seu posicionamento em relação ao forame incisivo.
Dessa forma:

Além de todas essas, ainda temos o correspondente a letra "I", que seriam as fissuras raras da face, porém, não está na tabela.
A sua etiologia pode envolver tanto fatores genéticos quanto ambientais. É uma área altamente complexa e sua base molecular ainda permanece desconhecida em sua maior parte.
As fissuras são subdividas em sindrômicas (30~40%) e em não sindrômicas (60~70%).
Fissuras sindrômicas
Ocasionada pela herança autossômica dominante onde o alelo portador da caracterítica é suficiente para expressar o fenótipo.
Exemplo:

Síndrome de Van Der Woude
A mais comum entre as fissuras sindrômicas, desencadeada por mutações no Gene IRF6.
Apresentações clínicas mais comuns:



Síndrome de Treacher Collins
Simetria afetada, malformação da orelha, perda auditiva, fendas palpebrais oblíquas,
Autossômica dominante,
Genes: TCOF1 (90%), POLR1D e POLR1C.


Síndrome EEC - ectrodactlia, displasia ectodérmica
Distúrbios nas extremidades e na formação e função da pele,
Autossômica dominante
Gene: TP63 (3q27)

Além de outras diversas manifestações associadas às fissuras.
Genes comumento afetados relacionados às fissuras
TGFA, TGFB2, TGFB3, FOXE1, FGF, GLI2, JAG2, SATB2,
LHX8, SKI, ERBB2, SPRY2, TBX10, MSX2 e IRF6.
Atualmente existem mais de 400 genes mapeados relacionados às fissuras craniofacias.
Fissuras não sindrômicas

As fissuras não sindrômicas não tem uma predisposição específica, a sua ocorrência se deve interação gene versus ambiente.
Estilo de vida vs Risco Genético vs Meio ambiente
Fatores genéticos
O modelo de herança multifatorial: interação entre fatores genéticos e ambientais.

Herança poligênica: vários pares de genes interagem para determinar uma característica, cada um com efeito aditivo sobre o outro.
Graças a esse tipo de interação existe uma variedade muito grande de fenótipos e genótipos para algumas características.

26% dos pacientes com FLP: histórico familiar
Gêmeos homozigóticos: concordância de 50-60%
Gêmeos heterogóticos: concordância de 5-6%
Genes homeobox
São genes importantes no desenvolvimento do crânio e da face, controlam a indução e a morte programada de células e a interação do mesênquima com o epitélio durante o desenvolvimento craniofacial.
Codificam proteínas que reprimem ou ativam a expressão de outros genes que regulam processo embriológicos que constituem a mensagem bioquímica dos genes homeobox para coordenação da migração celular e posteior interação celular que regulam o crescimento.
Fatores de crescimento de fibroblástico (FGF),
Fator de crescimento epidermal (EGF),
Fator alfa de transformação de crescimento (TGFa),
Fator beta de transformação de crescimento (TGFb),
Proteínas osteomorfogênicas (BMPs).
Genes envolvidos


Fissuras de lábio e palato: origens genéticas distintas.
Fissuras de lábio: foram mapeados 10 loci genéticos (OC 1 a 10) em diferentes cromossomos. Uma das mutações foi encontrada no gene MSX1, o mesmo gene envolvido na etiologia da agenesias dentárias.
Fissura de palato: gene TBX22
O que são fatores teratogênicos?

Tudo aquilo capaz de produzir dano ao embrião ou feto durante a gravidez.
Entre eles, podemos destacar:
* Bebida alcoólica,
* Cigarros,
* Medicamentos como corticóides e anticonvulsivantes.
Substâncias Tóxicas
Nitocina: A OMS atribui 20% dos casos de fissura labiopalatina ao tabagismo.
Uma mão fumante apresenta maiores chances de gerar um filho com fissura, em 1,3 a 2,3 vezes.
Álcool: Um consumo excessivo de álcool pode aumentar o risco de fissuras em 3,4 vezes diante do consumo de mais de cinco drinques por ocasião.
10% dos bebês con síndrome alcoólica fetal apresentam fissura palatina
O que são fatores Teratogênicos?
É tudo aquilo capaz de produzir dano ao embrião ou feto durante a gravidez.
Estes danos podem se refletir como perda da gestação, malformações ou alterações funcionais.
Medicamentos

Anticonvulsivantes (Fenobarnial, Primidona): Mulheres que
utilizam drogas anticonvulsivantes apresentam um risco de 1% de gerar filhos com fissura,
Fenitoína (antiolfato): admnistração de drogas antiolfato apontam aumento na formação de fissuras,
Corticosteróides,
Sedativos (Benzodiazepínas, Diazepan),
Quimioterápicos.
Fatores nutricionais
Deficiência de certos suplementos ( ex: ácido fólico),
Tanto a baixa quando a excessiva dose de vitamina A são relacionadas com as fissuras,
OMS recomenda mais estudos sobre a influência das vitaminas na etiologia das fissuras.
Doenças infecciosas
Infecções virais (gripe, rubéola, toxoplasmose...),
Febre alto no primeiro trimestre de gestação.
Fatores emocionais
Gestantes submetidas ao estresse,
Aumento na secreção de hormônio da supra-renal.
Distúrbios maternos
Diabetes mellitus,
Hipotireoidismo.
Alterações uterinas
Malformação uterina,
Diminuição do fluxo sanguíneo,
Adolescentes com útero não totalmente formado.
Agrotóxicos

Fenótipos combinados a exposição ocupacional materna = risco aumentado de fissura (1,37)
ExposiçÕes ocupacionais paternas = risco aumentado de fissura (1,16),
Qualquer exposição residencial = risco aumentado de fissura (0,77).
Ainda há necessida de realizar mais estudos considerando:
Avaliação de múltiplas vias de exposição dos pais,
Fenótipos etiologicamente homogêneos,
Suscetibilidade genética individual.
Gostou? Tem alguma sugestão de tema?
Envie um e-mail para raphaelmarcio@yahoo.com.br e deixe a sua contribuição!
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